domingo, 5 de julho de 2009

Um conto?

Escrevi essa incógnita abaixo ano passado, digitei no Word e lá ela permaneceu inalterada até hoje. Foi algo que me veio de súbito, não sei como, mas que tem uma certa relação com alguns sonhos que eu tive na época. Talvez sirva como pedaço de um conto ou de qualquer coisa que eu queira escrever num futuro próximo.
Como tudo que eu abandono no Word, o texto é inconsistente, fraquinho, mas nasceu de uma forma muito espontânea e por isso mesmo é especial pra mim.
. . .

Eu não sei como vim parar aqui. Nem ao menos sei onde é aqui. Desconhecer esse chão em que sou obrigada a pisar é como quando alguém tem consciência de que está tendo um pesadelo no meio da noite e não consegue despertar.
Tudo é tão desconfortável quanto ser repentinamente desligada de todas as leis físicas com as quais aprendi a conviver. Ser desligada de tudo o que me guiava.
Todas as velhas percepções e convicções violentamente esmagadas pelo desconhecido e imersas num vazio infinito. Acho que não posso mensurar essa nova dimensão... Tentar fazê-lo é tão inútil quanto contar carneirinhos antes de dormir!
Aliás, dormir é algo que não consigo fazer bem há muito tempo. Se é que o tempo existe por aqui, porque o céu, o ar e o clima parecem ser imutáveis, de forma que não faço idéia se agora é dia ou noite. Todas as coisas são envoltas por uma espécie de vapor meio púrpuro, quente e que faz arder os olhos.
Como eu queria voltar para minha casa! Ou pelo menos para algum lugar em que eu possa reconhecer traços de minha velha civilização.
Mas enfim... Talvez seja melhor voltar um pouco ao princípio, à linha tênue que separa essas realidades tão distintas e estranhamente tão iguais. Mundos que parecem sobrepostos uns aos outros, imprimindo uma sensação apavorante sobre eternos déjà vus e não-existências.
Eu estava em um lugar, não sei... Acho que muito longe daqui. Deitada em minha cama, coberta por lençóis. Sempre achei que esse fosse o local mais seguro do mundo. Aliás, se esse mundo um dia chegasse a desabar, eu sabia exatamente o que fazer: esconderia-me em baixo da cama.
Quanto ao resto, não me lembro muito bem agora. Sei que tenho um pai e uma mãe. Ou pelo menos tive, sei lá. Minhas memórias parecem ter sido codificadas. Sei que elas estão dentro de mim, mas não consigo traduzi-las por inteiro. Às vezes flashes de lucidez são projetados em minha consciência e consigo lembrar de coisas triviais. Mas aí vem uma escuridão lenta e profunda e minha mente parece ser mergulhada em uma solução de entorpecentes. Luzes de diversas cores vêm se aproximando, se aproximando... Dançando como uma brisa de fim de tarde, invadindo minhas pupilas, atirando-me num sono imensidão sem fim.
Sempre acordo no mesmo lugar. Não importa o quanto eu ande, o quanto eu corra, o quanto eu grite. Sempre me deparo com esse concreto imundo, de metros e metros de altura, me engolindo com ar triunfal. É por isso que dormir o máximo possível parece o melhor a se fazer. Pelo menos dormindo eu tenho o privilégio de estar onde eu quiser e com quem quiser. Ou mesmo sozinha e em lugar nenhum. Posso até brincar de não ser e não estar.